quarta-feira, 25 de abril de 2012

Poliglota

Em um desses domingos ensolarados de primavera, saio com amigos, por volta das 11h, para tomar café da manhã na lanchonete da Cité U. Sei que é tarde para a primeira refeição do dia, mas o fim de semana permite. Ao menos alguns se permitem, e contarei o porquê.

É que, na volta, cruzamos com um rapaz louro, alto e de olhos azuis, daqueles que costumam acordar às 14h, no domingo. No entanto, ele leva consigo uma bolsa tiracolo, sinal de quem vai trabalhar ou estudar. O relógio marca meio-dia.

– Bom dia. Com licença, vocês moram na Maison du Cambodge? – pergunta. Após resposta positiva, questiona se poderia, por acaso, estudar na nossa biblioteca. – É que a da Maison International (prédio principal da Cité) só abre às 13h e eu gostaria de começar a estudar logo – diz, demonstrando uma timidez ingênua.

Prontamente, dizemos sim. Para um estudante que não se esforça tanto, é a oportunidade de se ver em outro que trabalha no domingo (pelo menos isso). Até então, conversávamos em francês. Ao saber que minhas amigas eram de Barcelona, não hesita em falar espanhol. Quando digo “no hablo muy bien español; soy brasileño”, ele passa ao português. Pareceu-me que tinha reencontrado um velho amigo. Como bom nordestino, fico encabulado.

– Rapaz, que idioma você ainda vai falar? – pergunto. Com mais vergonha que eu, ele diz: – Minha língua materna é o flamengo (como os belgas costumam chamar o neerlandês de lál), e também falo inglês e alemão. É que quero ser diplomata.

Depois de saber que, com 23 anos, esse belga fala neerlandês, francês, inglês, espanhol, português e alemão, você ainda seria capaz de duvidar de que ele conseguirá?