“Com licença”; “Com licença, me
desculpe”; “Alguém pode abrir a porta, por gentileza?”; “Ei! Espere as pessoas
descerem, senhor!”; “Alguém pode abrir a porta, por gentileza?”; “Com licença,
me desculpe”...
A essas poucas frases alguém poderia
resumir um dia no metrô de Paris. E é assim que um parisiense faz. Porém, há muito mais,
para aqueles com uma pontinha de curiosidade. Por exemplo, há um homem
engravatado – já próximo da meia-idade – que lê jornal por cima dos ombros de
uma ruiva. Concentrado, ergue um pouco a cabeça e baixa os olhos, ainda olhando
por cima do ombro da garota. Não parece mais interessado em leitura.
A menina, parisiense; ele não. Porque
parisienses não veem ninguém, no metrô. Olhos perdidos, às vezes parecendo
contar as luzes do túnel; Smartphones que mostram Angry Birds sendo lançados
para derrubar obstáculos; Fones de ouvido lhes permitem esquecer o que se passa
ao redor.
Um senhor me pergunta: - E você, não tem? Ao ser
questionado sobre a razão da pergunta, aponta para os jovens ao redor, todos com orelhas
cobertas com fones Beats, do rapper Dr. Dre, e outras marcas diversas. Digo que
não sou parisiense, e ele compreende.
Mesmo se você, leitor, não puder
notar isso, durante suas viagens (passadas ou futuras) a Paris, basta saber de
uma coisa: quem não é parisiense, curioso é. Costuma olhar para tudo e todos.
Comenta sobre o quanto faz calor no trem, ao que o parisiense responde com um sorriso
amarelo, para em seguida voltar a ler. E preciso deixar claro: não falo de pessoas
nascidas nos 20 distritos de Paris, pois isto não é suficiente. “Sou parisiense
há cinco anos”, disse-me certa vez uma colega de Bordeaux.
Já o namorado de uma amiga, rapaz
louro natural do sexto distrito, ouve-me dizer que achava engraçado ver os
parisienses paquerarem no metrô e reage prontamente, parecendo estar
incomodado: “Não são parisienses. Parisienses nem sequer olham para os outros,
na rua. Nós somos educados assim. Esses são caras da periferia que vêm a Paris,
à noite”. De vez em quando, essas frases se repetem em minha cabeça, quando estou no metrô.
Uma garota me observa atentamente
há uns cinco minutos. Ela pensa que não percebi, mas sim. É bonita, como muitas
das marroquinas, mas, na verdade, não chega a tirar minha atenção de outra
pessoa no vagão. No momento, vejo um rapaz bem vestido que parece ser estagiário,
como eu. Desde que subi no trem, ele joga em seu iPhone. Comum. Incomuns são
seus olhos, que parecem piscar ao menos quatro vezes por segundo. Quando começo
a fazer igual, desvio os meus. É engraçado.
O senhor que me perguntou sobre
os fones de ouvido continua ao meu lado. Conta, com seu sotaque da ilha da
Reunião (Departamento Ultramarino da França), que uma garota (com fones de
ouvido) não percebeu quando um rapaz esperou os últimos segundos antes do
fechamento das portas do metrô para tentar roubá-la. O homem da ex-colônia francesa, de
aproximadamente 1,90m, havia notado desde o início, e pegou o rapaz franzino
pelo pescoço, fazendo-o soltar o smartphone de última geração. Ele me diz que presta
atenção a todos, do metrô, mas que as pessoas de Paris devem ter um problema:
não olham para ninguém.