sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Champagne para confortar minha saudade

Fotos por Pedro Miguel

Como escrevi na postagem “Enfim, férias ou Enfim, trabalho”, decidi ir a Reims (soa mais ou menos como “rãs”), na região de Champagne-Ardenne. Viajei na quarta-feira a convite de um colega de classe, que me ofereceu teto. Começo desastroso, final charmoso. Quem disse que é fácil chegar ao paraíso?

Na preparação, como sempre, deixei para arrumar minha mala tarde, por volta de meia-noite. Dormi às 3h para acordar às 6h30 e pegar o TGV (trem de alta velocidade) às 8h08. Resultado: ao sair de casa, às 7h30, confiro o bilhete novamente e vejo que, na verdade, o trem partiria às 7h58. Corri o máximo que pude para tentar chegar à Gare de l’Est a tempo. Cheguei às 7h58, mas TGV não atrasa (bem, é muito raro). Merde.

Catedral de Reims é mais bonita que a Notre Dame parisiense
Recebo reembolso de metade do valor pago, compro outra passagem. Parece que cheguei atrasado somente para poder comprar a última edição da Vogue francesa (Kate Moss na capa) para uma amiga. Infelizmente, não tinha a Playboy France para outra.

Após subir no trem, chego a Reims, que fica a cerca de 130 km de Paris, em menos de uma hora. Gente bonita nas ruas, um pouco mais frio que Paris (fazia 5ºC, sensação térmica de 0ºC) e uma belíssima catedral de Notre Dame (mais bonita que a homônima parisiense).

Pego minha câmera para fazer umas fotos e percebo que esqueci o cartão de memória. Putain. Compro um de 4 Gb por 15 € (R$ 40). Mais caro se comparado a Paris, mas, mesmo assim, mais barato que no Brasil.

 Vale a pena conferir os vitrais

Volta pela cidade, vinho em um restaurante e retorno para a casa do meu colega, com algumas Heineken e La Chouffe, excelente cerveja da Ardenne belga. No Xbox, Brasil perde para a França três vezes por placares elásticos. Oh, la vache !

No dia seguinte, após noite de poker e filmes franceses com os novos amigos rémois (gentílico para os nascidos em Reims), faço todo o tour obrigatório, passando inclusive pela basílica onde Clovis, o primeiro rei da França, foi batizado por Saint Remi.

Champagne

G.H. Mumm é fabrigado desde 1827

Mas o ápice da viagem foi minha visita ao G.H. Mumm, um dos mais charmosos champagnes, com uma história que remete ao século 19. O slogan é Seulement le meilleur (Somente o melhor), pelo padrão de qualidade exigido desde 1827, quando a marca foi criada. Também é a bebida oficial da Fórmula 1, o que, de certa forma, contribui para aumentar o prestígio.

Aproveito cada gotinha da degustação me perguntando quando teria a oportunidade de beber algo assim novamente. "Infelizmente, Pedro, é improvável". Na saída, vou ver os preços só para poder rir um pouco. De fato, ri bastante, mas de felicidade!

Havia degustado uma das versões mais caras do G.H. Mumm, o Brut Grand Cru. No Brasil, custa algo em torno de R$ 400, R$ 500. Em Reims, 42,50 € (R$ 100). Ah, como é bom comprar produtos diretamente ao fornecedor. Presente de ano novo para confortar minha saudade.

Meu conforto para o réveillon

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Um Natal francês

Primeiro Natal longe de minha família. Por outro lado, pude conhecer o modo francês de festejar a data, sem dança, cantorias e abraços à meia-noite, mas com Papai Noel, muito foie gras (fígado de pato), queijos, vinho e champanhe.

Convidado por uma colega de classe para passar o Natal com a família dela, eu aceitei de pronto. Não poderia desperdiçar a oportunidade de saber in loco como se comemora esse dia na França, apesar de já me terem falado bastante sobre isso antes.

Por volta das 20h30, chego a Massy, cidade da região metropolitana de Paris, e gosto do que vejo. Nada de ruas cercadas por prédios sufocantes, cheias de bares e restaurantes e com trânsito movimentado. O que vejo é um ambiente bem familiar e agradável. Casas grandes, muito verde, luzes e enfeites nas janelas...

Apesar da data especial, o silêncio impera. Nem sinal de músicas natalinas e muito menos de Simone entoando “Então é Natal...”. Pergunto-me qual era mesmo o número da casa, mas logo vejo a inscrição ao lado da campainha: Provasi. É, este não é um sobrenome francês, mas é a cara deste país multicultural.

Explico rapidamente: Minha colega tem avó italiana (razão do sobrenome Provasi), mas nascida na Argélia. Entre os filhos dela, já franceses, está o pai dessa amiga, cuja mãe é dinamarquesa. Vive la France e suas múltiplas origens.
Troca de presentes
 
A casa parece estar vazia, tendo em vista que, no Brasil, ouviríamos a gritaria e a música alta facilmente, mas a porta se abre logo após o primeiro toque da campainha. Ao entrar, vejo mais de dez pessoas que conversam e brincam sem muito alarde e com muito menos álcool.

Após risos e conversas amenas, nós nos sentamos à mesa. Isso mesmo, bem antes de meia-noite. A ceia de Natal é um verdadeiro ritual, o ápice da gastronomia francesa e das regras de etiqueta. Entrada, muita conversa; Prato principal, ainda mais conversa; Queijos, mais risos e conversa; Em seguida, sobremesa acompanhada de conversas diversas. Então, já passara de meia-noite e nada de abraços, cantorias e declarações de amor fraterno. Muito diferente.

Terminada a ceia, chegou a hora do pai de minha colega se vestir de Papai Noel. Ele nunca havia feito isso, foi um esforço a mais pela pequena sobrinha-neta. Foi tão sincero, vi que havia realmente um bonito sentimento ali. Eu poderia escrever umas três páginas somente sobre esse belo momento.

"Você vai ser boazinha?"
 - Você vai ser boazinha no próximo ano?

- Sim.

- Pergunto isso porque me disseram que você vai para o canto, às vezes. Você vai ser boazinha?

- Sim, responde a garotinha, que parecia sentir um misto de medo, surpresa e felicidade.


Com a partida do Papai Noel, percebi que ápice do momento fraterno começava ali, e não necessariamente à meia-noite. Trocas de presentes, belos agradecimentos e, finalmente, música. Bem baixinha, somente para animar um pouco o ambiente. Música brasileira, tentativa de dançar samba. Não conseguiram, claro, mas fiquei feliz em ver como se divertiram. Ainda ganhei uns caramelos e cremes do Mont Saint-Michel, na região da Bretanha. Uma delícia, por sinal.

E a melhor parte viria na chegada em casa: como diz uma amiga brasileira, “moramos no futuro”. Com a diferença de fuso-horário (quatro horas a mais), cheguei em casa a tempo de festejar o Natal com minha família e amigos, pelo Skype. Mais de três horas de brindes, dança, fotos, saudades e “vontade de ter dar um abraço”.

Um Feliz Natal.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Enfim, férias ou Enfim, trabalho

Ça y est, c’est les vacances !

Férias de inverno, em Paris. Nada de aulas até o ano novo. Nós chamaríamos de “um breve recesso”, mas os franceses ficam loucos com essa quinzena livre. Para mim, as coisas não mudam muito. Vejo os colegas partirem para os mais variados destinos (Espanha, Suíça, Alemanha, Zimbábue, Ilha da Reunião, Lyon...), e fico. O lado bom: o primeiro trabalho!

Após eu espalhar aos quatro ventos que gostaria de trabalhar durante as férias, uma colega de classe pergunta se eu faria um babysitting. De pronto, digo que sim. A tarefa era simples: os pais de dois garotinhos de 2 e 5 anos queriam sair para divertir e precisavam de alguém para cuidar dos pequenos no período de ausência (entre 20h e 1h deste sábado, 17).

Ganhar 40 euros (100 reais) para ler um livro e começar outro, conversar com amigos pelo Facebook, comer biscoitos com suco de pêra e praticar compreensão oral de francês assistindo às notícias do mundo, tudo isso enquanto as crianças dormem. Fácil como “encabular as amigas com comentários sobre sambinhas”.

Cave na região de Champagne-Ardenne
Os pais ainda me agradeceram. Pensei: - Rapaz, desse jeito, trabalharia todo dia para vocês. Disse: - Obrigado pela confiança.

Para aproveitar o dinheirinho extra, vou a Reims, na região de Champagne-Ardenne, para visitar umas caves e beber... champanhe! Desculpe-me, caro leitor, a vida fácil de estudante tem dessas coisas difíceis, às vezes.

Mais informações sobre Champagne-Ardenne: http://www.tourisme-champagne-ardenne.com/